13 de junho de 2014
Quando se realiza uma Copa do mundo de futebol muitos são os valores em jogo. Além das oportunidades de negócios que se abrem para muitos (ou para alguns), uma Copa promove mudanças de várias naturezas nos países em que ela é realizada. No Brasil, a ‘Copa da Fifa’ impôs ao povo brasileiro uma série de mudanças estruturais, tanto no âmbito econômico quanto no social. A demanda por investimentos de várias naturezas movimentou a economia nacional, criando oportunidades em áreas diversas como a da construção civil, do turismo, do comércio, dos transportes urbanos, entre outros. Mas junto com as oportunidades, a Copa da Fifa trouxe também novos conceitos e padrões de comportamento que, impostos por uma “Lei da Copa”, assinada pelo Governo Federal, bateram de frente com o nosso “jeitinho brasileiro”, com a torcida da ‘geral’, e vêm ferindo, sem cerimônia, a nossa paixão pelo futebol e a nossa identidade cultural.
Mudanças no padrão local, regional e nacional
O Itaquerão, novíssimo estádio de São Paulo (SP), estava todo verde e amarelo na festa de abertura da Copa 2014. Mas o que vimos ontem, além do jogo e de uma cerimônia de abertura muito sem graça, foi a confirmação de uma nova e triste realidade: a elitização do futebol. Desde as reformas ou construções de estádios – em um padrão europeu, que veio alterar a relação das torcidas brasileiras com os espaços dos campos – quanto o valor dos ingressos e dos preços dos alimentos praticados durante os jogos, o que temos visto, mesmo antes da Copa, é a promoção gradativa de uma elitização nos campos de futebol. Acontece que não estamos na Europa, o salário mínimo brasileiro continua mínimo e o povão vai se conformando em assistir aos jogos dos seus times – e agora, aos da nossa Seleção – fora dos estádios, em televisores de tela plana ou em telões. Foram montar torcidas alternativas, junto aos vendedores ambulantes, que também foram expulsos do entorno dos estádios e só podem, agora, vender seus churrasquinhos e cervejas no isopor a 2 km de distância dos estádios. Nos estádios, só entram os produtos dos patrocinadores e quem pode pagar pelos preços exorbitantes dos produtos oferecidos. Inclusive pela cerveja! Proibida antes e agora liberada durante a Copa…
Confira aqui a tabela liberada pela Fifa, para o que está sendo oferecido dentro dos estádios. Desde quando foi divulgada, assustou e gerou polêmica entre os brasileiros: os valores estão mais “salgados” com relação aos cobrados na Copa das Confederações do ano passado. Os produtos variam de R$ 15 a R$ 5.
Preços nos bares desagradaram aos torcedores na Arena Corinthians (Foto: Marcelo Prado)
No campo das oportunidades
Mas não só preços abusivos essa Copa nos traz. Para os que se prepararam, que buscaram qualificação, muitas foram e são as oportunidades que se abriram nesta Copa.
Os pequenos e médios comerciantes se preparam para uma boa margem de lucro e o comércio a varejo já está preparado, com suas vitrines estampando camisetas, perucas, óculos, máscaras e uma série de variedades em verde e amarelo. Ambulantes e feirantes também investiram em badulaques e peças artesanais com a temática da Copa. Saiba mais nos links a seguir:
Investindo no verde e amarelo para aumentar faturamento
Comércio varejista – Cenário e projeções
O setor de hotelaria também aguarda bons frutos do mundial no Brasil. Com o grande volume de turistas, até os motéis estão preparados para receber e acomodar. “Devido às altas taxas de hospedagem e à grande procura nos hotéis do Brasil, que hoje têm pouco espaço disponível, vimos nos quartos de motéis uma alternativa viável para aqueles que desejam se hospedar. Além disso, os motéis selecionados dispõem de infraestrutura ímpar para atender aos turistas e brasileiros”, explica o proprietário do Guia de Motéis, Rodolfo Elsas. Saiba mais aqui.
Para os setores de entretenimento e alimentação, a situação também é favorável. Muitos bares e restaurantes oferecem programação especial para a transmissão dos jogos e se preparam para a grande repercussão na mídia de seus estabelecimentos.
Identidade cultural
O “padrão Fifa” até tentou, mas não conseguiu impedir que o acarajé, a tapioca e o tropeirão do Mineirão fossem excluídos dos cardápios dos estádios de Salvador (BA), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG), respectivamente. Movimentos populares protestaram e forçaram, com manifestações e abaixo assinados nas redes sociais, a garantia a inclusão das comidas típicas nos cardápios oficiais. Não foi uma vitória completa, pois nem todos os pratos serão produzidos pelos cozinheiras e cozinheiros tradicionais e as Baianas do acarajé foram obrigadas a adotar algumas mudanças na indumentária e no preparo dos bolinhos. Sem falar nos preços abusivos para todos os produtos. Além do mais, os barraqueiros do Mineirão permanecem na luta para voltar a vender o tropeirão no entorno do Mineirão. Mesmo assim, foi importante mostrar para a Fifa que o povo brasileiro não abre mão das suas tradições e que “não engole qualquer cheeseburguer” na própria casa.
Confiram aqui e aqui algumas matérias sobre as reações populares contra as imposições dos cardápios da Fifa.
Movimento “Libere as Baianas”.
As mulheres do movimento “Tapioca na Copa”
O famoso tropeirão do Mineirão.
A Copa da Fifa 2014 começou ontem, dia 12 de junho. O Brasil ganhou o primeiro jogo!