25 de junho de 2014
A Copa de 2014 vem construindo seu legado singular com jogos lindos, torcedores apaixonados, resultados inesperados e muito hino cantado à capela. Além das partidas, um comportamento especial vem chamando a atenção após os jogos do Japão: a limpeza dos estádios. Os japoneses que foram à Arena Pernambuco para assistir à partida de estreia do Japão contra a Costa do Marfim fizeram questão de deixar as arquibancadas do estádio livres de lixo após a partida.
Dias após essa notícia ter circulado amplamente na mídia, surge outra boa nova: na Fifa Fun Fest (realizada no dia 16 de junho), em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, um grupo de turistas alemães recolhia não apenas seus copos plásticos, mas, também, os de outros frequentadores do espaço e encorajavam a retirada dos objetos que já haviam sido jogados no chão.
E como atitudes inteligentes se tornam modelos permanentes, o que se viu após o show de civilidade dos japoneses foi a torcida brasileira aderindo à faxina, ajudando a torcida nipônica a limpar a arquibancada na Arena das Dunas, no dia 19 de junho, no empate sem gols entre Japão e Grécia, em Natal (RN).
Que o exemplo e a atitude dos japoneses permaneçam entre nós após a Copa, em nossas casas, ruas, bairros e cidades, no lixo nosso de cada dia.
Vai ter reciclagem?
A reciclagem de resíduos está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, que cria normas para a coleta, o destino final e o tratamento de lixo urbano e industrial, entre outros. Apesar disso, uma pesquisa realizada pela BBC Brasil mostrou que as cidades brasileiras não estão preparadas para a separação e destinação correta dos resíduos. A cidade que obteve os melhores resultados nos índices de reciclagem foi Porto Alegre, com 9,1% do lixo produzido tendo o correto destino, seguida de Belo Horizonte, com 7%, Curitiba, com 6%, Brasília, com 5%, Salvador e São Paulo, com 2,1%, Recife, com2% e o Rio de Janeiro, com 1,7%. As outras quatro cidades-sede dos jogos do mundial, Fortaleza, Manaus, Natal e Cuiabá, não tiveram nem 1% do seu lixo reciclado.
De acordo com o Portal Brasil, todo o lixo sólido produzido durante a Copa do Mundo 2014 dentro dos 12 estádios que estão recebendo os jogos da competição será coletado e encaminhado à reciclagem em cooperativas. Estima-se que sejam produzidas cinco toneladas de resíduos passíveis de reciclagem a cada partida da Copa do Mundo, resultando em quase 320 toneladas no final dos 64 jogos. Ao todo, serão 840 catadores capacitados para tal tarefa.
Segundo o coordenador do Movimento Nacional de Catadores no DF, Ronei Alves, a valorização desse trabalho durante a Copa do Mundo terá impactos positivos na conscientização dos cidadãos.
“O catador sempre trabalhou de forma invisível. Poder atuar em um evento que será visto em todo o planeta é uma oportunidade de mostrar que temos uma função ambiental importante. Estamos vivendo um momento em que o cidadão precisa se responsabilizar pelo lixo que produz. Com essa ação, a população terá consciência, ao consumir a comida e a bebida, de que esse material precisa ter um descarte e uma destinação corretos”, disse.
Ainda falta educação
A região da Savassi, em Belo Horizonte (MG), está sendo “invadida” por turistas estrangeiros e torcedores brasileiros durante esta Copa do Mundo. Colombianos, belgas, gregos, argelinos, chilenos, argentinos, belo-horizontinos se reúnem e fazem a festa no local que virou ponto de encontro. Mas nem tudo é animação. Após as comemorações, a região tem sido tomada por lixo acumulado, latas e garrafas de bebidas, restos de isopor, mesas de plástico quebradas, sem contar os canteiros de flores destruídos e, claro, um fedor insuportável de urina nas ruas. A falta de educação dos frequentadores, a precária coleta de lixo e a escassez de banheiros públicos são apontadas como as principais responsáveis pelo cenário lamentável.
Dia seguinte após festa na Savassi, em Belo Horizonte (MG).
De acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), desde o dia 12 de junho, data em que se iniciou o evento mundial, cerca de 55 mil pessoas passam, diariamente, pela praça Diogo Vasconcellos, conhecida como Praça da Savassi. O mais assustador é que, desde o início da Copa, 7 toneladas de lixo já foram recolhidas por dia na região! Isso representa 14 vezes mais lixo em relação à coleta rotineira, que é de meia tonelada. Fonte: Bhaz
Em São Paulo, o problema é o mesmo. Milhares de pessoas compareceram aos bares da Vila Madalena, na zona oeste da capital, para assistir à partida da Argentina contra a Bósnia-Herzegovina, no domingo (dia 15). Mesmo com lixeiras nas calçadas, o público jogou garrafas de cerveja e copos plásticos na rua.
Lixo acumulado na Vila Madalena (SP).
Somos todos Catadores
Com a ajuda da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e dos mais de 5 mil táxis que circulam em Belo Horizonte (MG) durante a Copa, a SLU – em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Cooperativa dos Trabalhadores com Materiais Recicláveis da Pampulha Ltda (Coomarp Pampulha) – vem dando suporte a 90 catadores de materiais recicláveis, que atuam no entorno do Mineirão, nos dias de jogos, e no Expominas, em cada sessão da Fifa Fan Fest. Os responsáveis pelas ações de mobilização, os catadores e os técnicos da SLU trabalham com identificação exclusiva, utilizando coletes personalizados da campanha.
Com o lema “Somos todos catadores”, foram distribuídas, nos mais de 300 hotéis da capital e Região Metropolitana, 55 mil peças com mensagens incentivando a coleta seletiva e divulgando o trabalho dos catadores. Na mesma linha de divulgação, 500 dispositivos informativos foram produzidos para serem exibidos nos balcões de recepção dos hotéis.
As peças da campanha contam com a imagem dos catadores de materiais recicláveis Wallissom Bruno Silva Souza, Débora Cristina Pinto Pereira e Celso Martinele Alves Júnior.
De acordo com o superintendente da SLU, Sidnei Bispo, as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis têm papel fundamental nos programas de coleta seletiva. “Trata-se de um instrumento de desenvolvimento humano, já que esses trabalhadores realizam suas atividades com a finalidade de conseguir renda ajudando-se mutuamente”, conclui.
Trabalhando ao lado do Mineirão,
a catadora Maria Sueli dos Santos, de 54 anos,
defende a realização do Mundial no país
e mostra seus argumentos:
Vamos curtir o jogo e torcer para a nossa seleção com dignidade, cidadania e respeito!