15 de julho de 2014
O Mundial da FIFA no Brasil chega ao fim com a Seleção da Alemanha campeã e com a nossa Seleção fora dos três primeiros lugares. A Copa deixou seu legado em vários aspectos: pessoas do mundo inteiro descobriram o Brasil, as torcidas e o futebol foram contagiantes, os estádios se encheram de alegria, de cores e de gols.
Porém, a Copa também deixou para trás uma triste história. O direito de comunicação e de livre expressão não triunfou, dando lugar a uma arbitrariedade violenta e ao autoritarismo que deixaram, infelizmente, a marca de incontáveis violações aos nossos direitos civis e humanos. Quem foi para as ruas, viu o seu direito de protestar ser abafado pela polícia abrupta e truculenta. Quem estava lá apenas para registrar e noticiar, também viu a sua liberdade se esvair em meio aos inúmeros casos de agressões a comunicadores sociais.
No período entre a Copa das Confederações e a Copa do Mundo – um ano – 190 casos de detenção e violência contra jornalistas foram registrados no Brasil, sendo que, no Mundial, 88% dessas ocorrências foram protagonizadas por policiais. Os dados alarmantes são da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Filipe Peçanha, comunicador da Mídia Ninja – vítima de espancamento por oito PMs e a lente da câmera quebrada.
Prisão preventiva no Rio de Janeiro
A final da Copa do Mundo (realizada no último dia 13 de julho) trazia a promessa de protestos contra a realização do evento da Fifa no Brasil. Enquanto muitos brasileiros ainda sofriam com a derrota da Seleção, a Polícia Civil prendeu arbitrariamente 19 manifestantes (dois menores) com base em mandados de prisão temporária. A justificativa dessa operação – que fere direitos constitucionais – foi a de que era preciso prevenir ações que pudessem perturbar a ordem pública no dia da decisão da Copa do Mundo. Segundo a PM do Rio de Janeiro, junto com os manifestantes, foram apreendidas máscaras de gás, armas de fogo, explosivos e celulares. Os mandados de prisão foram expedidos pela 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro (capital). A ação não é inédita: na véspera da abertura da Copa do Mundo, dez ativistas foram presos e também tiveram celulares e computadores apreendidos pela polícia. Na época, ficaram detidos por 24 horas.
Fonte: Revista Fórum
Mais informações sobre os manifestantes que foram presos no Mídia NINJA.
Choque de criatividade
Manifestantes respondem à violência policial com arte
Indo em direção contrária à estratégia da PM, os ativistas de Belo Horizonte (MG) promoveram, em junho, o ato “17J – Copa sem povo, tô na rua de novo“. Depois de uma série de tentativas de se manifestarem pacificamente, cerca de 400 ativistas saíram às ruas levando as bandeiras pela Tarifa Zero em BH, a democratização dos meios de comunicação, a desmilitarização da PM, contra as remoções e contra a criminalizarão do protesto e dos movimentos sociais. Em ciranda, os manifestantes quebraram o cerco da PM e desceram caminhando em direção à Praça da Liberdade. Ninguém foi detido.
Muitas outras apresentações artísticas foram realizadas na capital mineira, a fim de combater, com criatividade, a violência da polícia. Esse novo formato artístico do protesto teve como objetivo abrir e ampliar o diálogo entre os manifestantes, a população e a própria polícia. As intervenções lúdicas foram apresentadas de frente para o Batalhão de Choque, mostrando aos militares os motivos de suas reivindicações, que abordaram principalmente o turismo sexual, a violação de direitos, a violência policial e outros prejuízos trazidos pelo Mundial.
Dentre diversos acontecimentos, se destacaram o teatro na Praça da Savassi; a manifestação pacífica no Centro da cidade; a Copelada, na qual os manifestantes pararam o trânsito na Av. Afonso Pena para jogar futebol no meio da avenida; a Praça da Estação que virou campo de futebol amador, com direito ao feijão tropeiro dos barraqueiros do Mineirão, juiz palhaço e torcida na geral; a exposição “Cartografias do Comum”, cuja abordagem é a potência transformadora das ações desenvolvidas por grupos culturais e sociais em Belo Horizonte.
Pelo Brasil afora…
Outras manifestações de criatividade e cultura aconteceram também no Rio de Janeiro. O ato “Copa na Rua”, com caráter de manifesto festivo, reuniu centenas de ativistas em concentração na praça Afonso Pena, no domingo, dia 13 de julho.
E, para encerrar a Copa do Mundo no Brasil, um grupo de ativistas estendeu na Praia de Botafogo um bandeirão de 300m² denunciando a FIFA e o impacto do evento. A frase #SayNoToFIFA (diga não à FIFA) pede que todos os brasileiros e todo o mundo não se sujeitem mais às ingerências aos abusos da maior coorporação de futebol mundial.