Liberdade para perder

24 de julho de 2014

Se passaram apenas 10 dias, mas parece que a Copa 2014 já acabou há meses… 
Na verdade, nesses últimos dias, a mídia impressa e eletrônica tem falado ainda muito sobre a nossa Seleção, sobre o vai e vem de jogadores, sobre os brasileiros que jogam na Ucrânia, sobre os legados e, também, sobre as lições e os prejuízos da “Copa das Copas”. Para além do futebol, com o Campeonato Brasileiro já em curso, é importante ainda refletir sobre o que significou, para nós, brasileiros, viver a experiência dessa Copa.

Escolhemos, para a nossa reflexão, as palavras de João Paulo Cunha – jornalista e editor de Cultura do jornal Estado de Minas -, publicadas no caderno Pensar, do último dia 12 de julho, sob o título de Liberdade para perder.

Separamos alguns trechos, mas vale a pena ler o texto na íntegra para que se possa, a partir dele, extrair não uma lição de palavras bem escritas, mas uma constatação sobre o que, de fato, para cada um de nós, é importante e vale a pena.

“Há muitas maneiras de encarar as derrotas. A mais sábia delas continua sendo a vertente estoica, escola filosófica grega que remonta ao século 3 a.C. E tem mais a ver com futebol – e com a política – do que parece à primeira vista.”

“Nós, homens modernos, acreditamos que todo defeito tem remédio. A técnica, herdeira da modernidade, parece desconhecer a liberdade humana: somos obrigados a exercer determinados comportamentos sob o crime de sermos considerados alienados. Para o estoico, a grande aliança deve se dar entre o homem e si mesmo e, em seguida, com a natureza. Exatamente por isso, foram os primeiros pensadores a propor uma natureza universal e uma unidade para o gênero humano.” 

“A maior herança da escola filosófica antiga não foi a fuga à ação, mas a defesa da ética como princípio de universalidade. A compreensão da liberdade que nos constitui nos obriga a expandir esse princípio para toda a sociedade. Os estoicos eram políticos até a raiz da alma e se preocupavam em educar os governantes.”

Toda derrota mobiliza emoções. A pior delas é o ressentimento. Ele ocorre quando as pessoas sentem que algo maior que elas tomou conta de sua liberdade e deixou o sujeito sem ação. Fica o discurso do coitado, do lamento desmobilizador, da caça aos culpados. (…) Na política, no futebol e até na vida pessoal. Nesses momentos de crise, a regra nunca é clara.

“O estoico nos ensinou muitas coisas com seu elogio da ataraxia, mas deixou portas abertas para a atitude no campo da moral e da educação do líder. Sobretudo na capacidade de mudar a ordem das coisas quando elas afrontam com a liberdade e a natureza. Por isso, perder, quando se é pior, é o melhor resultado possível. Não houve a tragédia que nos querem fazer engolir, apenas um péssimo resultado construído com muito esforço pela nossa cegueira voluntária. As tarefas agora estão dadas. Sabemos onde mancam nossas certezas e arrogâncias. Já é meio caminho andado.”

Belo Horizonte foi palco da triste derrota da Seleção brasileira para a Alemanha. Mas foi palco também de uma festa permanente e da alegria contagiante de todos os turistas que passaram pela cidade e, encantados com a recepção afetuosa dos mineiros, curtiram a cidade, levaram saudades, receitas de pão de queijo, muitas fotos, e prometeram voltar.

“Aqui, no inverno, o céu é azul!” 
Comentário de uma turista australiana, encantada com o céu de Belo Horizonte (MG).