A VIDA PODE SER MAIS LEVE E MELHOR

28 de julho de 2017

O mundo está em crise, o Brasil está em crise política e social e a pressão sobre as nossas vidas tem sido enorme. Tudo isso pede uma reflexão sobre a necessidade urgente de mudarmos hábitos e posturas diante de um cotidiano orientado pelo dinheiro fácil e pelo sucesso rápido.

Para colaborar com essa reflexão, publicamos a seguir alguns textos e links que oferecem boas informações sobre pessoas que pensam e agem sobre como levar uma vida mais leve, garantindo mais qualidade de vida e uma resistência às imposições do mundo atual.

 

TRÊS FORMAS DE MUDAR O MUNDO:

DESACELERE, DESACELERE E DESACELERE

Você conhece o Movimento Slow?

(Por Roberta Nader)

Slow significa ‘lento’ em inglês, e esse movimento surgiu exatamente como uma reação à velocidade absurda do mundo de hoje, onde tudo é rápido e descartável.

Por isso hoje eu vou apresentar três formas de se posicionar (ou se reposicionar) na vida, propostas pelo Movimento Slow. Até parece novidade, mas essas três propostas consistem em nada mais do que retomar hábitos que já tínhamos e que fomos perdendo graças a massificação dos novos tempos.

Tente praticá-los, e perceba o que muda dentro de você!

1- Comer com mais calma

Tudo começou com o Slow Food (em tradução livre: ‘comida lenta’), que veio em resposta ao Fast Food (comida rápida). As cadeias de restaurantes desse tipo de “comida rápida”, nascidas nos Estados Unidos, caíram como uma luva numa sociedade ultraconsumista e ultra-acelerada.

As pessoas engolem rápido qualquer porcaria e voltam a trabalhar. Mas isso está tendo um custo alto para nossa saúde e para nossa mente. O Slow Food busca o retorno ao ato sublime que é comer. Comer devagar, apreciando os sabores, apreciando os temperos, apreciando a companhia. Mais do que isso, ele prega que os alimentos sejam livres de venenos e remunerem de maneira justa os produtores.

A indústria de alimentos é a que mais lucra no mundo, e é também a que mais destrói o meio ambiente. Retornarmos aos alimentos colhidos em pequenas propriedades, reaprendermos a cozinhar em casa ou apreciar um restaurante de comida artesanal é o que ensina esse movimento.

2- Desacelerar o consumo

Nesse mesmo caminho nasceu o Slow Fashion (em tradução livre: ‘moda lenta’), em resposta ao Fast Fashion (moda rápida) das grandes cadeias de roupa. Os lucros absurdos e a velocidade com que essas lojas precisam suprir as prateleiras geram uma indústria com condições desumanas de trabalho, seja nas fábricas made in China ou made in Taiwan, seja nos porões do Bom Retiro, em SP.

As qualidades das peças são duvidosas e os produtos químicos usados estão matando os rios (e não é só roupa barata não, Dior e Versace são bem assim também, só os lucros que quadruplicam). Na contramão, alguns estilistas estão criando marcas que retomam a delicadeza das peças: feitas a mão por costureiras com boas condições de trabalho, com materiais sustentáveis e leves, sem produtos químicos e, principalmente, com muito mais qualidade e amor.

Aí você diz, “OK, mas deve custar bem mais caro”. Depende, porque aí é que está a jogada: o Movimento Slow vem sempre acompanhado da palavra ‘menos’. Ao invés de você comprar 15 peças da modinha, você compra três peças reais, que te representam e que duram cinco vezes mais tempo (diminuindo ainda a quantidade de lixo no mundo). Consumo é uma coisa, consumismo é outra.

3- Viajar com mais delicadeza

Por falar na palavra menos, foi dela que nasceu o Slow Travel (em tradução livre: ‘viagem lenta’). Tem uma frase famosa sobre Nova Iorque, mas que pode ser aplicada a qualquer grande cidade do mundo. “Você pode conhecer NY em três dias, mas não consegue conhecer em três anos”. E é verdade.

Um dos grandes baratos de viajar é se perder nos lugares, encontrar cantinhos escondidos, conhecer pessoas diferentes. Mas em certo momento parece que todo mundo começou a fazer contabilidade de países visitados. “Eu já estive em 43 países”. “Eu passei oito dias na Europa e fiz Barcelona, Madri, Paris, Londres, Berlim e Amsterdam”. Uau, mas você realmente conheceu esses lugares?

Tem umas agências de viagem que vendem coisas do tipo: “10 dias no Sudeste Asiático”. Mano, o sudeste asiático é praticamente um continente com 11 países! Como você vai conhecer tudo em 10 dias? Isso sem falar o quanto esse tipo de “McViagem” é prejudicial para os lugares e para as populações.

O Slow Travel prega viajar com mais delicadeza, respeitando a cultura e o povo do local. Escolhendo comércios e hotéis administrados pelos habitantes do lugar. Além disso, as cidades precisam de tempo para ser exploradas, caminhando lentamente pelas ruelas e se perdendo em cafés… E se for uma viagem de natureza então, nem se fala: é com o tempo que percebemos as plantas e os animais presentes em uma trilha ou a delícia que é estar sob uma cachoeira.

No Slow Travel você vai com uma mala mais leve e volta com mais histórias.

Os movimentos Slow vieram pra dizer “Ei, galera, pra quê tudo isso? Vamos desacelerar!”.

Eu não preciso, todo dia, sair correndo pro trabalho e passar no drive thru pra comer qualquer coisa no caminho. Eu não preciso comprar 30 peças de roupa para estar sempre na última modinha da estação, da subestação, enquanto eu posso comprar uma peça feita com qualidade e amor e que me representa verdadeiramente. Eu não preciso provar pra todo mundo que eu conheci 39 países, enquanto eu posso voltar com histórias incríveis de uma cidadezinha no Sul do Pará.

Do jeito que o mundo tá, arriscar andar mais devagar é um ato revolucionário, e talvez este seja o momento perfeito para revolucionarmos um pouquinho. O que acha?

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A utilidade do inútil no espaço

(Por José Monserrat Filho)

 

“Nas épocas de crise é que se deve dobrar o orçamento para a cultura!”

                                                                                Victor Hugo (1802-1885)

“É preciso olhar o mundo em que vivemos onde a lógica do dinheiro domina tudo. A única coisa que não pode ser comprada é o saber”, diz ao caderno Prosa d’O Globo, de 27 de fevereiro, o filósofo, crítico literário e professor de literatura italiana da Universidade da Calábria, Nuccio Ordine (1958-). Na entrevista, ele sustenta que só aquilo que está fora da lógica do lucro – as artes, a filosofia, a ciência – pode nos salvar da autodestruição.

Ordine veio ao Brasil lançar seu livro A Utilidade do Inútil – Um Manifesto, traduzido por Luiz Carlos Bombassaro, professor da UFRGS, e publicado pela Ed. Zahar. A obra, que já é best-seller na Europa, defende valores humanistas cada vez mais considerados “inúteis” e vem se tornando popular como “manifesto virulento e cheio de indignação intelectual a favor da arte e da cultura desinteressada”.

“Estamos numa rota autodestrutiva”, diz o filósofo e trata de explicar: “Hoje, temos uma radicalização na busca pelo lucro que se tornou uma forma de autodestruição do próprio capitalismo. É a ânsia de ganhar mais e mais que vai destruir o capitalismo”.

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A seguir, um trecho do livro de Nuccio Ordine que nos ajuda a refletir sobre nossos valores e atitudes no mundo atual:

 “Em nossa sociedade se considera útil só aquilo que produz benefícios. Por essa lógica, a música, a literatura, a arte, as bibliotecas, os arquivos de Estado, a arqueologia, são todas coisas consideradas inúteis porque não produzem benefícios. Por isso não é de estranhar que quando os governos fazem cortes  comecem sempre por essas coisas inúteis, sem se dar conta de que, se eliminamos o inútil cortamos o futuro da humanidade.

O verdadeiro drama da atualidade é que vivemos em todos os âmbitos da nossa vida a contaminação da ideia do benefício e do lucro. Já não educamos as novas gerações no amor pelo bem comum, pelo desinteresse, pelo gratuito. Pelo contrário, estão sendo educadas no amor pelo dinheiro fácil, pelo utilitarismo, pelo benefício pessoal. Até os professores e reitores universitários hoje falam uma linguagem contaminada pela lógica econômica. Os estudantes estudam para conseguir créditos. É essa a linguagem que usam. Não é uma linguagem neutra, demonstra que é a linguagem do lucro que domina todas as camadas da vida.

Kant explica muito bem: se vou a um concerto em que isto me beneficia? Meu amor pela música é um amor desinteressado e só esse amor me faz melhor. Numa sociedade corrompida pela ditadura do benefício, o conhecimento é a única forma de resistência. Porque com o dinheiro se pode comprar qualquer coisa: parlamentares, políticos, juízes, o sucesso, a vida erótica. Só há uma única coisa que não se compra com dinheiro: o CONHECIMENTO. Se sou bilionário e quero comprar o saber, nem um cheque em branco me valeria. O preço do saber é um esforço pessoal. Conhecimento não se compra, se conquista.

Os políticos assassinam todos os dias a cultura porque desprezam a cultura, mas também porque têm medo dela. Depreciam a cultura porque nossa elite política é cada vez mais ignorante, mais inculta. Ela não tem importância pra eles. […]

Hoje as pessoas buscam as belezas fáceis. Isso quer dizer que não tenho mais tempo de me dedicar muito à leitura ou pra passar horas num museu quando tenho disponível um museu como o Prado, o Louvre…  A gente foi aprendendo que “tempo é dinheiro”. E as pessoas preferem livros que não pedem esforços, é melhor frequentar aquelas manifestações culturais superficiais onde não aprendo nada porque não tenho tempo pras coisas que requerem um compromisso pessoal. Esse é o risco de hoje: cultivar belezas fáceis, risos fáceis, bestsellers, os filmes de efeitos especiais, tudo o que usamos pra nos distrair porque não queremos pensar nem ser estimulados a refletir.

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Etimologia da palavra ócio

A palavra ócio vem do latim otium, que significa “inatividade”. Além disso, a tradição grega também utilizava a palavra ócio para definir o momento de descanso e de trabalho intelectual. Essa palavra originou o verbete “negócio”, que significa, portanto, a negação do ócio.

O ócio, inclusive, permitiu a grandes pensadores e filósofos que pudessem desenvolver as mais diversas teorias e que encontramos hoje como base de nossa sociedade e nosso cotidiano. Foi o ócio, portanto, o responsável pela nossa evolução como sociedade, pois foi quem permitiu a evolução do pensamento e a dedicação às artes em geral.

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