MULHERES NA PANDEMIA

1 de dezembro de 2021

Mulheres unidas sabem que não serão facilmente vencidas.

Vamos falar de coragem? Vamos falar de resistência? Vamos falar de determinação? Vamos falar de justiça? Vamos falar de solidariedade e cooperação? Vamos falar de sobreviver, seja como for, para garantir o futuro dos nossos filhos e de todas as pessoas? Vamos falar do protagonismo das mulheres durante esta pandemia?

Nos últimos anos, as mulheres vêm assumindo lugares de destaque em todos os campos da atividade humana pelo mundo. Durante o enfrentamento da atual pandemia por Covid-19, esse protagonismo feminino tem sido cada vez mais evidente e eficiente, mas ainda não devidamente reconhecido.  As mulheres se puseram à frente de inúmeras ações individuais e coletivas e iniciaram movimentos locais e mundiais em defesa de todos os direitos de bem-estar ambiental, social e cultural. E essas ações vêm provocando mudanças significativas no comportamento social no que diz respeito às principais questões relacionadas à nossa saúde e à nossa sobrevivência no planeta. Estamos, de diversas maneiras e dimensões, enfrentando o desequilíbrio e o avanço da destruição ambiental provocada pelas ações inconsequentes e contínuas da sociedade humana. Os reflexos e as consequências desse desequilíbrio vêm sendo sentidos e vivenciados também de forma desigual. O triste cenário da pandemia por Covid-19 é, sem dúvida, reflete o nosso grande desafio diante de uma realidade que evidenciou e ampliou em muito a desigualdade e a injustiça que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. E as mulheres, mais do que nunca, têm sido afetadas de forma desproporcional pelos efeitos perversos dessa realidade pandêmica.

Queremos, aqui nesta postagem, mais do que evidenciar em números e índices a triste realidade mundial enfrentada por mulheres de todas as idades, demonstrar que não faltam exemplos de coragem, de inteligência e, mais ainda, de determinação por parte dessas mesmas mulheres para encarar todos esses desafios contemporâneos.


Vamos começar pelos índices:

A violência contra a mulher aumentou durante a pandemia de Covid-19.

É inegável que o isolamento social, em todo o mundo, obrigou famílias inteiras a um convívio forçado a que não estávamos acostumados. Uma das consequências disso – aliada ao desemprego e à pressão psicológica de medo, dor e incertezas diante da pandemia – foi o aumento significativo da violência doméstica, especialmente contra as mulheres.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma em cada quatro mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, durante a pandemia por Covid-19. Isso significa dizer que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual em 2020.

Veja aqui um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre o tema.

Uma pesquisa realizada, ainda em 2020, pela Sempreviva Organização Feminista – SOF (www.sof.org.br) junto com a Gênero e Número Media (www.generonumero.media) teve por objetivo conhecer as dimensões do trabalho e da vida das mulheres durante a pandemia. Segundo as pesquisadoras: “Os trabalhos necessários para a sustentação da vida não pararam – não podem parar. Pelo contrário, foram intensificados na pandemia”.

A pesquisa realizada indica como as desigualdades raciais e de renda vêm marcando a vida e o trabalho das mulheres na realidade pandêmica, assim como indica também a grande diversidade de experiências das mulheres rurais e das mulheres urbanas. Das entrevistadas, 85% viviam em área urbana e 15%, em área rural.

Entre os índices levantados pela pesquisa, destacam-se:

  • 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia.
  • 41% das mulheres que seguiram trabalhando durante a pandemia com manutenção de salários afirmaram trabalhar mais na quarentena.
  • 40% das mulheres entrevistadas afirmaram que a situação de isolamento social colocou a sustentação da casa em risco.
  • 91% das mulheres acreditam que a violência doméstica aumentou ou se intensificou durante o período de isolamento social.

Para saber mais sobre essa pesquisa, acesse aqui.

Crédito: © UNHCR/Vincent Tremeau

Infelizmente, embora as pesquisas ainda não apresentem seus resultados definitivos, é evidente que em 2021 esse quadro de violência contra a mulher se agravou.

Se formos pensar nas mulheres refugiadas e em deslocamento, essa violência é ainda maior. Segundo a ONU, a discriminação contra mulheres e meninas em condição de deslocamentos forçados é agravada ainda por outras circunstâncias: origem étnica, religião, deficiências físicas, orientação sexual e origem social. As mulheres que estão desacompanhadas, grávidas ou são idosas ficam ainda mais vulneráveis.

Confira aqui uma reportagem sobre mulheres refugiadas e suas estratégias de sobrevivência em outras partes do mundo.

(Ligue 180)

NÃO SE CALE DIANTE DE QUALQUER VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Solidariedade, compromisso coletivo e cooperação são expressões que a mulheres, de um modo geral, conhecem e vivenciam cotidianamente no mundo inteiro. No Brasil, com o aumento da pobreza e da fome, não faltam exemplos de iniciativas e de movimentos que evidenciam o espírito de cooperação e a capacidade de praticar a solidariedade das mulheres brasileiras, especialmente das mulheres negras e indígenas, que enfrentam também as desigualdades históricas resultantes do nosso racismo estrutural.

Ao dar a ênfase à dimensão racial (quando se trata da percepção e do entendimento da situação das mulheres no continente) tentarei mostrar que, no interior do movimento, as negras e as indígenas são as testemunhas vivas dessa exclusão. Por outro lado, baseada nas minhas experiências de mulher negra, tratarei de evidenciar as iniciativas de aproximação, de solidariedade e respeito pelas diferenças por parte de companheiras brancas efetivamente comprometidas com a causa feminina. A essas mulheres-exceção eu as chamo de irmãs.

(Lélia Gonzalez, 1988)

Saiba mais sobre a realidade e sobre o enfrentamento das mulheres negras em tempos de pandemia pela análise do relatório publicado pela Sempreviva Organização Feminista – SOF. Clique aqui


Agora, vamos falar de bons exemplos?

Nesta postagem, queremos destacar especialmente o trabalho menos conhecido, quase invisível, de mulheres brasileiras que estão também se destacando no combate à pandemia e a todas as dificuldades, desigualdades e injustiças geradas nos últimos dois anos.

Mulheres na Ciência!

Dados da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – apontam que apenas 28,8% dos pesquisadores acadêmicos do mundo são mulheres. Esse cenário pode mudar, aliás, já está mudando. Cada vez mais as mulheres brasileiras estão se destacando no Brasil e no mundo com seu trabalho dedicado, suas pesquisas e suas contribuições muito significativas para o progresso da ciência humana. Durante a pandemia essa potência feminina nas ciências ficou ainda mais evidente.


Conheçam alguns destaques das nossas incríveis

MULHERES CIENTISTAS BRASILEIRAS:

Ester Sabino

Liderou o sequenciamento do genoma do coronavírus e dá nome a prêmio para mulheres cientistas.

Segundo publicação do site Conexão Planeta, apenas 48 horas após o primeiro caso de Covid-19 do país ser confirmado em um hospital de São Paulo, a sequência completa do genoma do SARS-CoV-2 foi publicada pelas cientistas Ester Sabino e Jaqueline Goes, com a colaboração de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido). Publicado em 28 de fevereiro de 2020, o trabalho de sequenciamento foi realizado em tempo recorde, graças a uma tecnologia rápida e portátil que tem sido fundamental para o monitoramento da pandemia e para a identificação das novas variantes do vírus.

Confira a matéria completa aqui


Pesquisadoras formam rede nacional de enfrentamento à pandemia com foco nas questões de gênero

Um grupo pesquisadoras de várias universidades brasileiras lançou uma articulação nacional para enfretamento à pandemia de Covid-19 e suas consequências. A Rede Brasileira de Mulheres Cientistas tem por objetivo de abordar, de maneira mais destacada, o debate público sobre os efeitos conjuntos gerados pela atual pandemia sobre as mulheres, dando visibilidade a pesquisas e iniciativas que possam colaborar para construir respostas que evitem a reprodução e ampliação de desigualdades e injustiças no futuro próximo.

A professora Flávia Biroli, do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília – UnB, que é uma das integrantes iniciais da Rede, conta que a proposta surgiu em uma reunião realizada com cerca de dez cientistas mulheres, de diferentes áreas do conhecimento, em que foram levantadas algumas provocações sobre a situação das mulheres na pandemia.

No mesmo dia em que iniciamos as conversas para compor um grupo de assinantes para a carta que lançou essa articulação, passamos a ser 500. Hoje somos mais de 3.000l mulheres pesquisadoras, professoras, de diferentes áreas de conhecimento e regiões do país, comprometidas com a ciência.

(Professora Flávia Biroli – UnB)

Conheça mais sobre as propostas da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas aqui


QUANTAS CIENTISTAS BRASILEIRAS VOCÊ CONHECE?

Joana D’Arc Félix de Sousa

O nome é de heroína, a atuação é inspiradora e a história de vida não deve nada aos filmes hollywoodianos. Conheça essa incrível cientista brasileira que, com mais de 80 prêmios conquistados nas áreas de Química e Sustentabilidade e 15 patentes registradas nacional e internacionalmente, representa um dos grandes nomes da pesquisa em ciências no Brasil. Para conhecer a história vitoriosa da professora e pesquisadora Joana D’Arc Félix de Souza clique aqui

Desde o início de 2020 a ciência vem sendo protagonista no contexto da pandemia pela COVID-19. É preciso reafirmar que somente pela ciência e pelo seu devido reconhecimento a humanidade poderá chegar à solução dos diferentes desafios que afetam o mundo hoje. Apesar de estarmos vivenciando um momento tão delicado e triste, com tantas vidas perdidas que poderiam ter sido evitadas, o campo das pesquisa científica vem sendo cada vez mais negligenciado em nosso País. Ainda assim, pesquisadoras e pesquisadores resistem, persistem e seguem incansáveis, contribuindo para minimizar tantos problemas e chegar à solução dos diferentes desafios que afetam o mundo hoje. Por isso merecem todo o nosso respeito e reconhecimento. E que seus nomes e feitos sejam amplamente e devidamente divulgados.

PROCURE CONHECER E SABER MAIS SOBRE ESSAS MULHERES!

Leia aqui a matéria publicada pela revista Carta Capital sobre várias mulheres cientistas.


Gabi Torres, de 23 anos, produziu um mural de 240m² no muro do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. Em mais de 600 horas de trabalho, a artista pintou 100 rostos dos grandes nomes da ciência no Brasil e no mundo. Entre eles, 19 personalidades são rostos de cientistas mulheres.

Para Gabi, o “Grafite da Ciência” é uma pequena parcela da homenagem que deveria ser feita para reconhecer as mulheres no âmbito científico. Segundo ela: “O pessoal do CBPF indicou a lista. Eu fiz o pedido para colocar mais mulheres na parede. A gente não costuma estudar as muitas mulheres que estão na ciência. Eu tenho muita admiração por elas”.

“O que a vida quer da gente é coragem!”

(Guimarães Rosa)


Foto: Reprodução

As ativistas Greta Thunberg (Fridays For Future) e Txai Suruí, indígena brasileira, em protesto na Suécia (19 nov) , depois do encerramento da COP26

Para finalizar, queremos destacar a consciência ambiental, a inteligência e a coragem da mulher brasileira em defesa do Brasil, de suas florestas e especialmente dos povos indígenas. Conheça a ativista brasileira Txai Suruí, de 24 anos, que foi a única mulher brasileira a discursar na abertura da 26ª Conferência do Clima, a COP26, realizada de 1 a 12 de novembro de 2021 em Glasgow, na Escócia.

Txai Suruí, filha de uma famosa ativista pelos direitos dos indígenas e de um cacique, acompanhou, desde cedo, a luta dos pais pela proteção da terra onde vivem. Ela cresceu na reserva 7 de Setembro, em Rondônia, uma área sob permanente ameaça do garimpo ilegal. Atualmente, a jovem está no último semestre do curso de Direito e, antes mesmo de completar sua formação, Txai já trabalha na área jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), entidade que defende a causa indígena em Rondônia. Ela é também uma das fundadoras do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia.

Na COP 26, diante de líderes mundiais, Txai Suruí cobrou participação de indígenas nas decisões da cúpula do clima. Ela apontou as incongruências da Cúpula do Clima e denunciou a política de destruição das florestas e contra os povos indígenas praticada pelo atual governo brasileiro. Ele afirmou: “Quem mais está sofrendo com as mudanças climáticas são os povos originários e eles não estão aqui nas tomadas de decisão”.

Veja o vídeo do discurso de Txai Suruí na abertura da COP26, em 2021.

Clique na imagem abaixo

“Medo eu não tenho. A gente cresceu nisso. A luta dos povos indígenas é com a nossa vida, não é só pela nossa vida, a gente luta com ela.”

(Txai Suruí, 2021)

txaisurui Posted @withregram • @midiaindiaoficial @walela é a única Indigena a discursas hoje na abertura oficial da @cop26uk .


Ficha Técnica deste post

Coordenação: Departamento Socioambiental Vina – Cláudia Pires Lessa

Design Gráfico: Lika Prates

Texto: Élida Murta