Quem tem fome, tem pressa

30 de março de 2023

Quem tem fome, tem pressa

O sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido como Betinho, disse essa frase ainda na década de 1990, quando fundou a ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, e lançou, pela primeira vez, uma campanha nacional que conseguiu, na época, avanços significativos na luta contra a fome no Brasil. A ONG Ação Cidadania existe até hoje e segue na sua luta diária e permanente contra a fome, a miséria e pela vida.

O que podemos pensar a partir dessa frase tão verdadeira e muitas vezes repetida nos últimos anos? A condição da fome, em si, já é inadmissível. Como se pode admitir que uma pessoa fique sem comer, que não saiba se terá o que comer no dia seguinte? Se essa questão envolve crianças, ela é ainda mais absurda, mais urgente e inaceitável!

Ter acesso à comida é um direito de todos, e está garantido em nossa Constituição! Acontece que a realidade contraria esse direito básico e fundamental de todo ser humano, de todo ser vivo. A fome, seja no Brasil ou no mundo, está relacionada à desigualdade social, à injustiça social e ao egoísmo humano.

A desigualdade social no Brasil acentuou-se nos últimos anos – no período 2021-2022 – e ela se manifestou em todas as áreas – em especial na saúde, na educação, no meio ambiente e na economia – e a consequência evidente disso tem sido o empobrecimento progressivo do povo brasileiro, que vem enfrentando as dificuldades geradas pela precarização da vida, agravada pela falta de suporte efetivo do poder público. Sem dúvida, um dos reflexos mais evidentes e mais graves desse quadro de empobrecimento é a falta de acesso à comida, a uma alimentação suficiente e adequada para o pleno desenvolvimento humano. Some-se a esse quadro (que já é grave) o resultado da má gestão pública no enfrentamento à pandemia de Covid-19.

Tudo se torna mais grave, mais urgente, diante da FOME.

Em 2022, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil revelou que havia 33 milhões de famintos no país.

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O que é a fome?

De acordo com a FAO, a fome é considerada a sensação de dor física causada pela ausência de alimentação por pelo menos um dia.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é uma agência especializada das Nações Unidas (ONU) que lidera os esforços internacionais para combater a fome. Com 195 membros – 194 países e a União Europeia –, a FAO trabalha em mais de 130 países em todo o mundo para alcançar a segurança alimentar para todos e garantir que as pessoas tenham acesso regular a alimentos de alta qualidade suficientes para levar uma vida ativa e saudável. 

Embora o Brasil também seja um integrante da FAO, pesquisas apontam que, em 2023, pelos menos 33 milhões de pessoas passam fome e 77 milhões vivem com algum nível de insegurança alimentar no país.

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Insegurança alimentar

Insegurança alimentar é a condição de não ter acesso pleno e permanente a alimentos. A fome representa sua forma mais grave.

Insegurança alimentar leve: incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida;

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Insegurança alimentar moderada: quantidade insuficiente de alimentos;

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Insegurança alimentar grave: privação no consumo de alimentos e FOME.

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A volta do Brasil para o mapa da fome

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Pesquisas realizadas por institutos nacionais e internacionais apontam que, em 2021, infelizmente o Brasil voltou para o Mapa da Fome da ONU.

O Mapa da Fome é uma ferramenta utilizada pela FAO que apresenta o número de pessoas que enfrentam a FOME e a insegurança alimentar no mundo. O Mapa aponta os países em que existem populações que não têm acesso à alimentação, têm acesso inadequado ou insuficiente para uma vida saudável. Um país entra no Mapa da Fome quando mais de 2,5% de sua população enfrenta falta crônica de alimentos. Para considerar que uma país superou o problema da fome esse indicativo deve ficar abaixo dos 5%.                        

O Brasil havia saído do Mapa da Fome da ONU em 2014. Porém, voltou a figurar no cenário da insegurança alimentar a partir de 2015, obtendo um especial agravamento a partir de 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, com o cancelamento de programas públicos e de ações coordenadas entre os poderes federais, estaduais e municipais importantes – como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), os programas de Segurança Alimentar e Nutricional e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) –, todos essenciais para a alimentação da população brasileira em situação de vulnerabilidade. A pandemia de Covid-19, que afetou o mundo todo a partir de 2020, veio piorar ainda mais esse cenário de fome.

 
(Fontes: Agência Senado e site Politize)

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MAPA DA FOME: COR, ENDEREÇO E GÊNERO

Segundo a ONG Ação Cidadania Inserir link, apenas 4 entre 10 famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação diária e o mapa da fome no Brasil tem cor, tem endereço e tem gênero. …..

Vejam estes dados:
– 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com a fome;
– Norte e Nordeste são as regiões brasileiras mais afetadas pela insegurança alimentar;
– 6 de cada 10 lares comandados por mulheres convivem com insegurança alimentar.

Esses dados angustiantes denunciam uma trajetória que mostra que também no Brasil o direito humano à alimentação adequada vem sendo sistematicamente violado, provocando uma tragédia vivida hoje e que terá impactos muito graves no futuro da população brasileira.

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E para acabar com a fome?

É impossível desvincular a relação da fome com condição da miséria. A desigualdade social – sendo a FOME uma de suas consequências mais graves – vem aumentando no Brasil e no mundo. A condição de vulnerabilidade social, econômica e ambiental estão interligadas e o esforço para mudar essa catástrofe humana está na mão de cada um de nós e precisa estar no desejo e no empenho de todo mundo e do mundo todo.

Para começar, é fundamental o estabelecimento de metas locais, regionais, nacionais e mundiais para esse enfrentamento. A FAO estabeleceu uma meta mundial para zerar a fome até 2030, definindo um conjunto de diretrizes para que líderes políticos assumam o compromisso de combater de forma efetiva a fome e a insegurança alimentar.

Para evitar esse cenário em 2030, o relatório publicado em conjunto pela FAO, pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), pela UNICEF, pelo Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) e pela OMS, sugere um conjunto de diretrizes para que os líderes políticos combatam os determinantes da fome e da insegurança alimentar:

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[…] O relatório observa que, embora a pandemia tenha causado grandes reveses, há muito a aprender com as vulnerabilidades e desigualdades que ela revelou. Se levados a sério, esses novos insights e sabedoria podem ajudar a colocar o mundo de volta nos trilhos rumo ao objetivo de acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas as suas formas. FAO, FIDA, UINCEF, PMA e OMS. O Estado da Segurança alimentar e Nutricional no Mundo 2021. Transformando os sistemas alimentares para segurança alimentar, nutrição melhorada e dietas saudáveis acessíveis para todos. Roma, FAO, 2021.

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Conheça aqui o conjunto de diretrizes da FAO para combater e reduzir a fome no mundo até 2030

#AFomeNãoEspera

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Nesse contexto de metas e de perspectivas mundiais, um novo momento se apresenta para a luta contra a fome no Brasil. O primeiro compromisso anunciado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, mesmo antes da sua posse, foi o de convergir todos os esforços para tirar novamente o Brasil do Mapa da Fome.

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Plantar para colher

Uma das primeiras iniciativas do novo governo foi recompor, em 2023,  o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) que havia sido extinto no governo anterior.  O Consea é um importante espaço institucional para a participação e o controle social na formulação, no monitoramento e na avaliação de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Ele é composto por um terço de representantes governamentais e dois terços de representantes da sociedade civil organizada.  

Avançando nas medidas para combater a atual realidade da fome, no dia 22 de março último, o presidente Lula anunciou a recriação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e garantir segurança alimentar e nutricional à população brasileira, especialmente às famílias mais vulneráveis. O PAA fortalece as redes locais de comercialização, fomenta a produção em âmbito local e garante melhores condições de alimentação tanto para os produtores quanto para as demais famílias do município. 

O novo PAA estabelece um percentual mínimo de compras da agricultura familiar por órgãos federais e prevê a restituição do papel do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) como entidade de controle social. A medida também inclui a reinstalação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf) e a criação do Programa de Organização Produtiva e Econômica de Mulheres Rurais.

(Fonte: Canal 247)

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Fome zero no Brasil: a luta continua

“Ao olhar para a fome, é importante lembrar que cada número absoluto representa a vida de uma pessoa. E que mudanças em percentuais de insegurança alimentar – ainda que pareçam pequenas – significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome”.

(Fonte: Olhe para a fome)

A pressão imposta sobre a população brasileira, marcada historicamente por uma profunda desigualdade social, que teima em prevalecer sobre o bem-estar coletivo e permanece alimentando a miséria e impedindo que mudanças positivas aconteçam, não será resolvida facilmente. É evidente que apenas recuperar a economia não será suficiente para mudar a dura realidade da fome. Sempre será necessário ir além, exigindo e garantindo direitos básicos – entre eles a educação, a alimentação adequada, a preservação ambiental e a promoção permanente do bem-estar social – de forma igualitária a toda a população brasileira.

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#FOMEZEROJÁ!

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Ação e reação

A sociedade civil organizada, mesmo nos piores momentos da pandemia de Covid-19, não parou de agir para minimizar a fome e a miséria em todo o território nacional. Associações comunitárias, ONGs, entidades filantrópicas, instituições escolares, instituições religiosas de todas as naturezas, grupos de amigos, e tantas pessoas que individualmente promoveram mobilizações e buscaram formas de garantir que ninguém passasse fome, todas elas apostaram no espírito de solidariedade que, em meio a tantas diferenças, é uma característica do povo brasileiro. Todas elas seguem acreditando nisso.

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VAMOS PÔR A COMIDA NA MESA JUNTOS?

Vamos destacar aqui ALGUMAS iniciativas que, no Brasil, seguem combatendo a fome e a miséria e apostando na nossa verdadeira humanidade. Conheças essas iniciativas e fique à vontade para colaborar, de qualquer maneira, com todas elas.

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www.acaodacidadania.org.br

Fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a Ação da Cidadania nasceu em 1993, formando uma imensa rede de mobilização de alcance nacional para ajudar 32 milhões de brasileiros que estavam abaixo da linha da pobreza. Criada no auge do Movimento pela Ética na Política, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida se transformou no movimento social mais reconhecido do Brasil. Seu principal eixo de atuação é uma extensa rede de mobilização formada por comitês locais da sociedade civil organizada, em sua maioria compostos por lideranças comunitárias, mas com participação de todos os setores sociais.

Em 2020 o Ação Cidadania lançou uma campanha pelo Natal Sem Fome.

A música tema foi composta por Xande de Pilares, Gilson Bernini, Emicida e Mosquito. O vídeo contou com a participação de artistas consagrados da nossa música e já foi visto por milhares de pessoas.

Clique aqui para ver o vídeo. Vai valer a pena!

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Em 2023 uma das principais campanhas da Ação Cidadania está voltada para a ajuda humanitária aos Yanomamis.

Clique aqui para conhecer e apoiar essa campanha.   

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Fundada em 1998, a ONG Banco de Alimentos é uma associação civil que recolhe alimentos que já perderam valor de prateleira no comércio e na indústria, mas ainda estão aptos para consumo, e os distribui onde são mais necessários. A ONG leva também suas ações e conhecimentos para além das áreas circunscritas da fome.

Saiba mais

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O Mesa Brasil Sesc, desde 1994, contribui para mudar esse cenário. A Rede nacional de Bancos de Alimentos combate a fome e o desperdício, a partir de doações de parceiros, e contribui para a garantia da segurança alimentar e nutricional de crianças, jovens, adultos e idosos, em vulnerabilidade social, em todo o Brasil.

Saiba mais

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#OlheParaAFome

Abaixo apresentamos links para vídeos produzidos sobre a produção de alimentos e sobre segurança alimentar.

Eles são um convite à reflexão sobre pratos vazios e pratos cheios, sobre consciência individual e ações coletivas, sobre a diferença que faz poder alimentar o corpo e compartilhar conhecimentos.

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Como o Brasil produz tanto e tem tanta fome?

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Agronegócio para quem?

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O Veneno está na mesa

O veneno posto à mesa vai pra dentro de você! Campanha contra os OFENSIVOS AGRÍCOLAS no Brasil. Documentário de Silvio Tendler. ESTAMOS COMENDO VENENO!

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Para aliviar, vai aí uma “alface de esperança” para o seu prato

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Horta na escola: Por onde começar?

 

A IMPORTÂNCIA DAS HORTAS ESCOLARES Sua escola possui uma horta? Por onde começar a construir uma? Neste vídeo oferecemos alguns caminhos e também relatamos como foi possível debater vários temas em várias disciplinas a partir da construção de uma horta em uma escola pública em Goiânia – Goiás – Brasil.

Iniciativas como essas estão presentes em todo o Brasil, mas é uma ideia para distribuir mudas e poder colher canteiros de esperança com a futuras gerações brasileiras.

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#BrasilsemFome

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VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

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Comida – Orquestra OPUS & Arnaldo Antunes

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Ficha Técnica deste post

Coordenação: Departamento Socioambiental Vina – Cláudia Pires Lessa

Texto: Élida Murta

Design Gráfico: Lika Prates

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