24 de abril de 2014
Você trocaria o conforto do seu carro por um metrô lotado, no qual precisa ficar em pé durante todo o trajeto, ou por um ônibus também cheio, que demora até meia hora para passar? Dificilmente alguém responderia “sim” diante dessas opções. Essa é uma das principais dificuldades para resolver a questão da mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras.
Até porque, para a maioria dos brasileiros, não há escolha: o transporte público é a única alternativa de locomoção para chegar ao trabalho, à escola e para realizar outras atividades do cotidiano.
Oferecer transporte público acessível, confortável e eficiente não deve ser apenas uma estratégia para que os motoristas se sintam encorajados a deixar o automóvel em casa, mas principalmente é uma obrigação de prestar um serviço público adequado a quem já é usuário.
O IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – avaliou a qualidade dos ônibus e do metrô em São Paulo (SP) e em Belo Horizonte (MG) e constatou que são muitos os problemas, como superlotação, atrasos e falta de informações sobre o itinerário. Para saber mais sobre a pesquisa, clique aqui.
Os protestos realizados em junho de 2013 estão relacionados em um ponto comum. Grupos se manifestaram em prol da ocupação dos espaços públicos em Porto Alegre, condenando a construção de mais estacionamentos. Teve o grupo de ciclistas da Massa Crítica, que com frequência ocupam as ruas em grupo em passeios ciclísticos e manifestos contra a ditadura dos automóveis. Houve também manifestações contra o corte de muitas árvores,com objetivo de ampliar vias e ruas – obviamente, não as calçadas. Por fim, o protesto que obteve maior sucesso: pela redução da tarifa e pela melhoria no transporte público. Todas estas demandas lutam contra um modelo de configuração urbana que retira os espaços das pessoas para caminhar, se reunir e confraternizar, e que sempre favorece mais espaços para os carros. Ou seja, a questão central tem também a ver com a indústria automobilística e petrolífera.
Nossas cidades ficam cada vez maiores, e os espaços cada vez mais distantes. Assim, as pessoas precisam de transporte. Como o transporte público é ruim, caro e demorado, as pessoas compram carros. O transporte público fica mais caro e o lucro das empresas é cada vez maior. Ao mesmo tempo, há o incentivo comercial para compra de carros, como juros mais baixos e IPI reduzido, aliado à mídia, que faz as pessoas acreditarem que ter um carro é ter poder e liberdade.
Consequência: trânsito cada vez mais caótico – com mais poluição sonora, mais poluição do ar, imensos engarrafamentos, além de brigas e stress no trânsito. Qual é a solução apresentada pelo poder público? Construir mais vias, aumentar as avenidas. Assim, mais carros cabem no trânsito. Por isso, aquilo que ficava mais pertinho, tem que mudar de lugar e ir para um pouco mais longe, dando lugar às avenidas. A longo prazo, acompanhamos uma repetição cíclica: mais estradas > mais carros > mais longe as coisas ficam > mais necessidade de carro > mais vias > mais carros > mais longe as coisas ficam.
Por que não investir em transporte público, para ter menos carros ocupando espaço nas ruas? Por que não estruturar a zona urbana de outra maneira, que seja mais limpa, mais silenciosa, mais saudável? Por que não mais bicicletas, skates, patinetes ou simplesmente nossas pernas?
Porque quanto mais carro, mais gasolina. Quem ganha com isso? As indústrias automobilísticas e petrolíferas,além das grandes empreiteriras. Não é à toa que os governos cada vez mais sucumbem a esses incentivos e gastam dinheiro público para dar lucro a essas empresas. Elas investem forte em lobby, em propaganda e em’lavagem cerebral’.
A ideologia do carro faz acreditar que as pessoas não vivem sem carro. Mais do que incentivar a usar carros, nos faz crer que não existimos sem carro, que um automóvel determina nosso valor. E uma parte desse grito que até então estava engasgado, diz:
“Não queremos ser carros: queremos a cidade para nós”.
Trechos adaptados do texto escrito por Adriano Kuler. Clique aqui para ler na íntegra.
Antes de pensar em sistemas alternativos para o transporte público, as cidades deveriam se concentrar em ampliar e melhorar os ônibus – antes mesmo de investir em metrôs e trens. O foco nos coletivos contribuiria para aumentar o índice de satisfação dos passageiros, gerenciar o tráfego de maneira mais eficaz e incentivar o uso de ônibus por todos os cidadãos, diminuindo, também, o número de carros nas ruas. Essa é a avaliação de Horácio Augusto Figueira, especialista em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (USP) e crítico do transporte individual, que considera ser esse o principal problema do trânsito nas metrópoles.
São esses os veículos com maior capacidade de transporte de passageiros em relação ao custo-benefício, garante Horácio Figueira. “O transporte individual, com automóveis e táxis, ocupa 10 vezes mais espaço para transportar o mesmo número de pessoas, nas mesmas condições de conforto (com passageiros sentados). Enquanto 35 pessoas viajando sentadas ocupam 15 metros de uma faixa em um só ônibus, o mesmo número de passageiros se estende ao longo de 150 metros em 25 veículos.
Privilegiar o ônibus no sistema viário significa reduzir o número de faixas de tráfego dedicadas ao transporte individual e implementar medidas para transportar um maior número de pessoas de forma mais eficiente, produtiva e sustentável.
O BRT (Bus Rapid Transit – em português, trânsito rápido de ônibus) é defendido por muitos como uma forma inteligente, integrada e econômica de transporte público. É também muito flexível, podendo transportar desde 2 mil passageiros por hora em cada sentido até 42 mil/hora (caso do TransMilenio de Bogotá). Esse sistema deve ser ainda expandido em mais uma iniciativa nacional: no Rio de Janeiro (RJ), o sistema de ônibus articulados na Avenida Brasil – a principal avenida da cidade – está sendo construído com expectativa de transportar até 60 mil passageiros por hora, número equivalente à capacidade de um metrô. A prefeitura carioca estima que o BRT Transbrasil será o maior serviço do tipo no mundo em número de passageiros.
No Brasil, o BRT foi implementado inicialmente em Curitiba, onde surgiu como solução de transporte e acabou se tornando uma espécie de cartão de visita. Desde então, o sistema se espalhou por diversas cidades do mundo e muitos municípios têm demonstrado interesse em adotar os ônibus articulados no País: além da capital paranaense e do Rio de Janeiro, há projetos em andamento em Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo, entre outras, em um total de 31 municípios.
Ao redor do mundo, 156 cidades contam com um total de 278 corredores de ônibus e BRT em operação, se estendendo ao longo de 4 mil quilômetros em todos os continentes, de acordo com dados de junho de 2013, divulgados pelo BRTdata.org. Ao todo, mais de 25 milhões de passageiros utilizam os veículos diariamente, sendo o maior número de usuários (10 milhões/dia) no Brasil.
Como vai funcionar em BH?Em Belo Horizonte (MG), o sistema BRT recebeu o nome MOVE. O novo sistema de transporte coletivo da capital iniciou a primeira etapa de sua operação em abril de 2014. Os ônibus estão circulando pelo corredor da avenida Cristiano Machado partindo da Estação São Gabriel, região Nordeste da capital, tendo o Centro e a região da Savassi como destinos.
Em 2014, o MOVE vai operar nas avenidas Antônio Carlos, Pedro I, Vilarinho e na Cristiano Machado, capaz de atender a 700 mil pessoas diariamente. Na Área Central, o MOVE vai circular nas avenidas Paraná e Santos Dumont. O total é de 23 km de vias exclusivas para o serviço.
A integração das estações possibilita a utilização de mais de uma linha, com o pagamento máximo de R$2,65 (valor vigente em fev./14). Até quando, não sabemos ainda…
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Implantação em etapas
No próximo sábado (26 de abril), começa a terceira etapa do BRT/Move. Nesta fase, nova linha irá ampliar o atendimento aos passageiros no centro da capital e na região hospitalar. Além disso, cinco novas linhas começarão a rodar com o objetivo de retirar mais ônibus da pista de tráfego misto da movimentada avenida Cristiano Machado.
Conforme estimativa da BHTrans, empresa que administra o trânsito em BH, em torno de 28 mil usuários irão passar a se integrar ao sistema Move todos os dias com a estreia da terceira etapa.
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As obras continuam…
O corredor Antônio Carlos/Pedro I – que espera receber diariamente 400 mil passageiros – ainda esbarra em obras e na conclusão do terminal de integração Pampulha. Primeira estação a ser inaugurada na modalidade BRT, a São Gabriel, na Cristiano Machado, deve atingir a marca de atendimento de 100 mil passageiros/dia.
O número de usuários ainda é distante dos 300 mil que devem ser atendidos na São Gabriel até a Copa, como anuncia a BHTrans, mas já representa um avanço em relação ao corredor Antônio Carlos, prometido para ficar pronto dentro de um mês. O presidente da BHTrans, Ramon Victor Cezar, garante que até a Copa do Mundo, daqui a menos de dois meses, os dois corredores vão estar em funcionamento. Mas, no local, ainda há muito a ser feito, como garantem os próprios operários.
Na Antônio Carlos, as obras apresentam maior avanço entre o Viaduto São Francisco e o Bairro Lagoinha. No sentido contrário, até a Avenida Pedro I, funcionários ainda trabalham na instalação de equipamentos dentro das estações, na implantação de paisagismo e na conclusão das obras da Estação Pampulha. Um dos funcionários diz: “Não vai dar para ficar pronta para a Copa”.
Fonte: Estado de Minas