11 de abril de 2013
Há 60 anos, o Brasil sediava a Copa do Mundo e Belo Horizonte (MG) era uma das cidades-sede. Turistas que a visitaram para assistir aos jogos aproveitaram para conhecer o “concreto em curvas” às margens de uma lagoa. Encantaram-se.
A Copa de 2014, que novamente será sediada no país, se aproxima. Mas, dessa vez, a exuberância da Pampulha não é a mesma.
A construção da Pampulha, apesar de não ter sido ideia original de Juscelino Kubitschek, e sim do prefeito anterior, Otacílio Negrão de Lima, ultrapassou o projeto inicial ao adquirir maior suntuosidade: um complexo arquitetônico, criado por Oscar Niemeyer. Além de sua beleza paisagística, ela é valorizada pelo famoso conjunto de edificações que representam marcos na arquitetura brasileira.
Projetada em área rural, a partir de 1936, para servir como reservatório de abastecimento para Belo Horizonte, a represa ainda possui a função de amortecer ondas de cheia ou reduzir a vazão dos cerca de 40 cursos d’água que compõem a sua bacia hidrográfica.
A lagoa da Pampulha, na época da sua inauguração (década de 40), era utilizada pelos moradores da região para prática de esportes náuticos, pesca e turismo, sendo frequentada por banhistas, desportistas e famílias até os anos 1980, quando começou a ser poluída pelos córregos e fábricas do entorno.
Lagoa da Pampulha na década de 50 |
Nas últimas décadas, o fenômeno de assoreamento da lagoa e da eutrofização de suas águas acelerou-se, chegando ao lamentável quadro de perda de 50% do seu volume de preservação e de 40% da área do espelho d’água. Além da deterioração da qualidade de suas águas, que apresentam elevados teores de matéria orgânica e baixas concentrações de oxigênio dissolvido.
Ao longo desses anos, a ocupação desordenada e os escassos investimentos em saneamento básico trouxeram sérias consequências socioambientais para a Bacia da Pampulha.
Lagoa da Pampulha em 2010 |
Em 1998, foram realizadas cinco operações de limpeza na Lagoa da Pampulha. Entre as mais de 200 toneladas de lixo retiradas do local, foram encontrados objetos como pneus velhos, garrafas, animais mortos (vacas, cavalos e cachorros), sofás, colchões e armários, carcaça de veículos e ainda dois revólveres.
Já no ano de 2004, cerca de 2000 toneladas de lixo foram retiradas.
Em 2010, Belo Horizonte sofreu com mais de 2 meses de seca, que reduziram drasticamente o volume de água da bacia. Assim, formou-se uma crosta de poluição na bordas de um dos principais cartões-postais da capital, impregnando as obras de Oscar Niemeyer de um mau-cheiro capaz de deixar qualquer turista bem longe. A mancha verde-musgo (foto acima) se alastrou por vários quilômetros, com mais de 10 centímetros de espessura em alguns pontos. No mesmo ano, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente iniciou um estudo para avaliar alternativas a serem usadas para tentar despoluir a lagoa.
Em março de 2013, o processo de revitalização finalmente começou. A previsão é que, até o final do ano, parte da Lagoa da Pampulha esteja completamente limpa.
Sonda instalada para monitorar a qualidade da água da lagoa. |
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, publicou, no início de março, o edital de licitação do empreendimento “Dragagem para Desassoreamento da Lagoa da Pampulha”. A intervenção complementa as ações de saneamento integrado, em implementação pela PBH e pela Copasa, no âmbito do programa Pampulha Viva, que integra o Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia Hidrográfica da Pampulha (Propam).
O termo dragagem define a escavação ou remoção de solo ou rochas do fundo de rios e lagos através de equipamento. A dragagem para desassoreamento da Lagoa da Pampulha consistirá na retirada de materiais orgânicos e inorgânicos sedimentados, carreados ao longo dos anos pelos afluentes da bacia hidrográfica da Pampulha. A previsão é retirar um total de 800 mil metros cúbicos de sedimentos até o inicio da Copa do Mundo de 2014.
O que se pretende é que o material seja dragado, succionado e transportado através de tubulações para um local próximo, no entorno da lagoa, onde deverá ser desidratado mecanicamente, facilitando o transporte para algum local mais distante, licenciado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente.
Em março, também foram iniciadas as obras de restauração dos Jardins de Burle Marx, localizados na orla da Lagoa da Pampulha. Serão recuperados os jardins do Museu de Arte da Pampulha, da Casa do Baile, da Igreja São Francisco de Assis, da Casa Kubitschek e da Praça Dalva Simão, todos tombados pelo Patrimônio Cultural nas esferas federal, estadual e municipal. Quem está à frente do projeto é o arquiteto urbanista e paisagista Ricardo Lanna, um dos mais importantes estudiosos de Roberto Burle Marx no país.
A restauração dos jardins de Burle Marx prevê o resgate dos projetos paisagísticos originais, contratados pela Prefeitura na década de 1940, em conjunto com os projetos arquitetônicos da Lagoa da Pampulha. Segundo Ricardo Lanna, a ideia é recuperar o desenho original, deixando os jardins em reciprocidade visual com o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. Será feito também um trabalho de recuperação da flora original.
Para Burle Marx, um jardim “é uma obra viva, que resulta da combinação de diferentes formas e cores, como na pintura ou nos sons musicais”. |
Foi feito um levantamento das espécies existentes e constatou-se que algumas delas, integrantes do projeto original, se perderam com o tempo. A intenção é fazer o plantio das mesmas espécies ou de similares àquelas que são, na atualidade, protegidas por lei por estarem em risco de extinção. Outra ação importante será a retirada de algumas árvores em mau estado fitossanitário. O projeto ainda prevê a revitalização dos sistemas de iluminação e irrigação dos jardins.
Em dezembro de 2012, a Fundação Municipal de Cultura retomou a candidatura do Conjunto Arquitetônico da Pampulha ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, formalizado na Unesco desde 1996. Uma comissão de notáveis, composta por representantes do poder público e da sociedade civil, terá a responsabilidade de transformar o projeto “Pampulha Patrimônio da Humanidade” em realidade.