HORTAS COMUNITÁRIAS: A FORÇA POSITIVA DO COLETIVO

22 de março de 2019

O Feito a Mãos será a nossa pequena contribuição, feita por várias mãos dentro e fora da VINA, na construção de um caminho de cooperação e divulgação de boas notícias e de ações positivas que envolvam grupos e comunidades. Aqui terão destaque atitudes transformadoras que mobilizem pessoas e também pequenos gestos que melhorem a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, o nosso planeta.

O VinaVina busca reafirmar que somos parte de um mundo pleno de diversidade, que queremos ver pessoas sendo tratadas com o respeito e com o cuidado que merecem. Somos parte do mesmo planeta e podemos fazer, juntos, coisas incríveis.

Mãos à obra!


HORTAS COMUNITÁRIAS: A FORÇA POSITIVA DO COLETIVO

As hortas comunitárias são inciativas que vêm se multiplicando no Brasil e no mundo. Resultantes de iniciativas individuais que evoluem para movimentos coletivos comunitários, elas envolvem a cooperação, a inclusão social e a ocupação positiva e efetiva do espaço urbano público. Hortas urbanas são também política socioambiental, promovendo uma relação saudável com o espaço público e com o meio ambiente, o resgate cultural e de cidadania e, ainda, se configuram como fonte de alimentos saudáveis para a comunidade envolvida e fonte de renda para seus participantes.

Vamos falar aqui de experiências atuais significativas de hortas urbanas comunitárias em BH, no Brasil e no mundo.


Foto: DSA Vina

DE BH PARA O MUNDO

Hortelões da Lagoinha

O Quintal do Sô Antônio é muito mais do que um espaço comunitário conquistado pela comunidade do Bairro Lagoinha. Ele é o território da ação coletiva e transformadora dos Hortelões da Lagoinha.

Esse movimento coletivo de agroecologia nasceu da iniciativa individual da atriz e ativista ambiental Cida Barcelos em 2015. Moradora, desde 2011, do tradicional Bairro da Lagoinha, localizado entre as regionais Leste e Noroeste de Belo Horizonte (MG), Cida Barcelos sentiu-se motivada pela força mobilizadora dos movimentos de junho de 2013. Ela percebeu que era possível ocupar, de várias maneiras, o espaço público e sentiu que poderia iniciar uma mudança ali mesmo, na sua rua, que naquele momento era tão mal iluminada e frequentada por viciados em drogas e desocupados. Na esquina da sua rua, a Adalberto Ferraz, com a rua Francisco Soucasseaux, bem ao lado da Av. Antônio Carlos, havia um terreno abandonado e cheio de lixo que envergonhava a paisagem do seu bairro Lagoinha. Foi ali que, sozinha, ela começou a limpar o terreno e a cultivar os primeiros girassóis.

A ideia inicial era chamar a atenção geral com a transformação daquele espaço degradado em um belo jardim de girassóis – que ficariam famosos como “os girassóis da Lagoinha”. Em breve, apareceram os primeiros adeptos: os moradores de rua da região que, segundo Cida, perceberam o espírito coletivo daquela iniciativa e resolveram ajudá-la na limpeza inicial, no plantio dos primeiros girassóis e, também, na sua segurança enquanto ela transformava aquele espaço. Outros curiosos e voluntários foram chegando e, entre saraus de poesia, performances da Cida, encontros culturais e gastronômicos, mudas e enxadas, café, biscoito, cooperação, suor e alegria, aquele terreno abandonado foi ganhando novas cores e foi se transformando num território bem ocupado pela comunidade.

Quando os girassóis da Lagoinha floresceram, e finalmente o poder público resolveu prestar atenção naquela ocupação original e inusitada, estava nascendo, junto com aquelas flores solares, o coletivo Hortelões da Lagoinha: idealizadores e guardiães daquele que seria batizado de Quintal do Sô Antônio (uma alusão ao Antônio Carlos que dá nome à avenida que passa ao lado do Quintal).

De lá pra cá, muita ideias e parcerias floresceram e o projeto seguiu adiante.

Cida Barcelos e o seu primeiro canteiro de girassóis.

OS PARCEIROS

Um parceiro importante do movimento é Pierre de Souza, artista plástico e ativista, que divide com Cida, desde 2017, a adoção do território do Quintal. Eles respondem pelo espaço público no convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte, realizado por meio do Programa Adote o Verde, da Secretaria Municipal de Abastecimento. Aos adotantes cabe manter as áreas verdes limpas e bem cuidadas – garantida pela ação dos Hortelões – e a contrapartida da Prefeitura é oferecer apoio técnico e garantir iluminação e água para o desenvolvimento dos projetos no Quintal.

Na verdade, a princípio, do poder público local eles não conseguiram nenhum apoio. Foram necessários muito trabalho, muitas reuniões, muitos girassóis floridos e muitos eventos culturais naquele espaço público para conseguir a atenção e o apoio da PBH, da Secretaria Municipal de Abastecimento e da Secretaria do Meio Ambiente. Benefícios como a limpeza do terreno, o fornecimento de mudas e ferramentas, uma nova iluminação e o principal, a água da Copasa ligada no Quintal, só foram conseguidos depois de muita pressão por parte dos integrantes do coletivo, dos voluntários, da comunidade do entorno e de outros moradores do bairro. O envolvimento instituições como a UFMG, por meio da participação de professores e alunos dos cursos de Ciências Biológicas e de Arquitetura, e o Instituto Isabela Hendrix, com a participação ativa dos seus alunos do curso de Arquitetura, tem sido de grande valor para a evolução das ações e a consolidação da paisagem do Quintal do Sô Antônio.

Na Lagoinha, aos poucos, os Hortelões foram conquistando a atenção, a simpatia, o envolvimento e o respeito dos vizinhos e de outros moradores do bairro. Pai Ricardo, respeitado líder religioso local, tem sido um grande aliado e um apoiador constante das ações realizadas no Quintal. O chef Miller Machado, que comanda o espaço gastronômico Armazém nº 8, localizado em frente ao Quintal, também tem sido um parceiro permanente nos eventos promovidos pelos Hortelões da Lagoinha, além de utilizar em suas receitas as ervas e outros vegetais colhidos no próprio Quintal do Sô Antônio.

Em 2019, a paisagem é verde e o desenho do Quintal continua se transformando. Um dos participantes do coletivo, Thomás Jansen, que é estudante de Ciências Biológicas da UFMG, conta que já está em curso o trabalho com as três mandalas de plantas que atualmente integram o Quintal do Sô Antônio. Na sua concepção, foram seguidos os princípios da agroecologia, na qual é justamente a diversidade de espécies que garante o desenvolvimento harmônico e saudável de todas as plantas. Ele é integrante, na Universidade, do grupo de estudos em agroecologia urbana AGROÊ, do qual também fazem parte os seus colegas, Alexandre Alvarenga, Joaquim Lacerda, Paulo Morgado e Túlio Soares. Esse grupo tem dado suporte científico e técnico para o desenvolvimento das mandalas – batizadas de OMI, AMUNGA e AMASI, que significam ‘água’ em diferentes dialetos AMUNGA e AMASI, que significam ‘água’ em diferentes dialetos africanos. Além das mandalas, será desenvolvido um canteiro de plantas e ervas que são utilizadas nos rituais da Umbanda.

O próximo grande canteiro dos Hortelões da Lagoinha será a construção do Espaço de Apoio e Fomento à Agroecologia Urbana num terreno bem ao lado do Quintal. Com mandalas, mutirões, oficinas, compostagem, encontros culturais e festivos, o Quintal do Sô Antônio, fundado com determinação e coragem por Cida Barcelos, vai florescer em diversidade, energia, harmonia, cores e sabores que refletem os novos valores de um espírito coletivo que vai continuar a fortalecer e a transformar, para melhor, as relações da comunidade e a paisagem da Lagoinha. 

 

Integrantes do Coletivo Hortelões da Lagoinha (ao centro, Cida Barcelos).
Foto: DSA Vina

O Coletivo Hortelões da Lagoinha tem o firme propósito de avançar e transformar aquele espaço em um laboratório a céu aberto, em uma “biblioteca viva” de agroecologia para plantar e colher sabedoria, respeito, cultura, amizade, verduras, legumes, ervas, raízes, frutas, flores e o sonho coletivo de construir uma cidade mais bonita e muito melhor.

Preparação do canteiro de uma das mandalas.

    

“Hortelões da Lagoinha não sou eu, não é você, somos todos nós! Por uma cidade mais verde, saudável e colaborativa!”

Foto: DSA Vina

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JARDINS POSSÍVEIS 

Outra iniciativa em BH, e que é também parceira com o Coletivo Hortelões da Lagoinha, merece ser conhecida e seguida. É a pesquisa Jardins Possíveis, coordenada pela Profa. Luciana Bragança, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG. Segundo a Profa. Luciana, tudo começou com uma coleção pessoal de imagens de jardins nas cidades. A coleção inicial ganhou corpo e hoje já envolve os alunos da Escola de Arquitetura, que vêm trabalhando com várias coleções e ações sob sua coordenação. “Essas coleções são compostas por temas diversos com abordagens sensíveis e reveladoras dos jardins nas cidades”. Várias questões podem ser trabalhadas a partir da identificação, do registro e da análise da diversidade desses jardins. Por exemplo: “Que projeto de vida os jardins representam para além do jargão sustentável e do embelezamento cenográfico?”.

Em 2018, o projeto Jardins Possíveis realizou uma ação em parceria com os Hortelões da Lagoinha.

Em Belo Horizonte existem também outros grupos e inciativas de agroecologia urbana comunitária, como o Coletivo Roots Ativa, Spiralixo, Massalas, A Horta da Cidade, A Horta do Papa, entre outros, e que merecem ser conhecidos e apoiados.

 


 

NO BRASIL

Horta das Corujas

São Paulo (SP)

Em 2011, foi criado, no Facebook o grupo Hortelões Urbanos, articulado pelas jornalistas Claudia Visoni e Tatiana Achcar. O grupo é formado por pessoas de todo o Brasil que querem trocar experiências e discutir a realidade da produção de alimentos nas cidades, seja dentro de casa ou em áreas públicas. O termo “hortelão urbano” se espalhou como ‘erva daninha’, e, hoje, o grupo chega a quase 25 mil membros na rede social.

A Horta das Corujas, localizada na Praça Dolores Ibarruri, região da Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo (SP), foi a primeira iniciativa que resultou do envolvimento coletivo promovido pelo grupo Hortelões Urbanos. Num espaço de 800m²  há diversos cultivos e acesso a água limpa, mesmo nos tempos mais secos, desde que recuperaram uma das nascentes que abastecem o Córrego das Corujas. A horta é aberta a todos, e é protegida com uma cerca baixa apenas para evitar a entrada de cachorros. Em sua instalação e consolidação, a Horta recebeu o apoio do CADES (Conselho Regional de Meio Ambiente Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz) da subprefeitura de Pinheiros.
Há seis anos a Horta das Corujas é uma experiência comunitária bem-sucedida,  que tem inspirado a criação de muitas outras iniciativas em São Paulo e no Brasil.

Para conhecer mais sobre a história dessa iniciativa pioneira, clique aqui

Fonte: Programa de Agricultura Urbana e Periurbana (PROAURP), da Prefeitura de São Paulo (SP), que incentiva a criação de hortas comunitárias e hortas caseiras para autoconsumo.

NO MUNDO

DESYREE VALDIVIEZO PALACIOS/DIVULGAÇÃO

Crianças tomam conta de terrenos baldios e os transformam em jardins, hortas e áreas de leitura no Peru

Paula Adamo Idoeta

Quando viu um terreno vazio e abandonado diante de sua casa, no empobrecido distrito de Comas (periferia de Lima), em 2011, o peruano Rogelio Ramos Huamán se lembrou de um projeto que fizera na escola alguns anos antes: ele havia sido encarregado de cuidar de um pequeno terreno, onde plantava sementes e regava as plantinhas. Huamán decidiu, então, repetir a experiência em terrenos baldios perto de casa. As crianças da vizinhança foram convidadas a usar esses espaços para fazer seus pequenos jardins, com cartazes coloridos e pequenas mudas de plantas.

Em questão de meses, segundo ele, eram tantos os jardins infantis espalhados pela vizinhança de Comas que a comunidade decidiu ir além: pediu à prefeitura autorização para ocupar um terreno da região, com 120m², que estava abandonado e cheio de lixo. As crianças locais o transformaram em um bosque, com vasos de plantas, árvores frutíferas e bancos para leitura. Uma empresa cedeu água e fertilizantes.

Assim, a comunidade deu ao bairro uma área até então inexistente para as crianças brincarem. “Ao fim, ficamos felizes por como a força da nossa crença em mudanças conseguiu melhorar o bairro e nós mesmos como pessoas”, escreveu Huamán no livro do projeto peruano “Tierra de Niños” (TiNi, ou Terra de Crianças em tradução livre), iniciativa da ONG Ania, criada para estimular o desenvolvimento sustentável por meio do contato das crianças com a natureza

Fonte: @paulaidoeta – Da BBC Brasil em São Paulo

Saiba mais sobre essa iniciativa transformadora clicando aqui



Ficha Técnica deste post

Coordenação: Departamento Socioambiental Vina – Claudia Pires Lessa
Redação e revisão: Élida Murta
Design Gráfico: Lika Prates