Greenpeace comemora 25 anos no Brasil com o navio Rainbow Warrior

25 de outubro de 2017

A chegada

O Greenpeace, maior organização ambientalista do mundo, possui  um barco famoso, utilizado há quase 40 anos em suas campanhas. Entre elas, ações contra caça de baleias, golfinhos e contra a realização de testes nucleares nos oceanos. O barco é o Rainbow Warrior, que atracou no Rio de Janeiro no dia 29 de abril como parte das celebrações de 25 anos de atuação da ONG no Brasil. A embarcação é, na verdade, a terceira geração dos “guerreiros do arco-íris”, na tradução livre do título do barco (tirado de um livro sobre mitos e lendas indígenas).

Rainbow Warrior visita o Rio de Janeiro. Foto: Fernanda Ligabue/Greenpeace

O navio que chegou ao Porto do Rio de Janeiro é a terceira geração do primeiro barco oficial, mais conhecido como Greenpeace. Diferentemente das duas primeiras versões, que eram barcos pesqueiros adaptados, o Rainbow Warrior III, que pode alocar até 32 pessoas, foi o primeiro com design desenvolvido seguindo os mais altos padrões ambientais.

A embarcação usa energia eólica em lugar de combustíveis fósseis, com a opção de alterar para um motor de potência de propulsão a diesel-elétrica, quando em condições climáticas adversas. A forma do casco foi projetada para maximizar a eficiência energética. O Rainbow Warrior III é um veleiro dotado de equipamentos de segurança e ferramentas para ações de campanhas, que inclui quatro embarcações infláveis, heliponto e uma plataforma de comunicações com tecnologia de ponta.

O objetivo dessa ação no Brasil é chamar a atenção da sociedade para a campanha lançada recentemente pelo Greenpeace para proteger os recifes de coral da Amazônia, ecossistema ameaçado pela exploração de petróleo no mar, tanto no Amapá quanto no Pará.

Grupo de apoiadores do Greenpeace abrem a visitação ao navio. Foto: Bárbara Veiga/Greenpeace

Como tudo começou

O Rainbow Warrior foi adquirido pelo Greenpeace em 1977. Na época, ele se chamava Sir William Hardy e estava encostado num atracadouro em Londres. Primeiro navio diesel-elétrico construído na Inglaterra, em 1955, foi usado como navio de pesquisa pelo Ministério da Agricultura e Pesca do país. Ele custava 44 mil libras, muito dinheiro para o Greenpeace na época, o que levou ao lançamento de uma campanha de arrecadação de fundos. Em oito meses, a organização conseguiu juntar 10% para a entrada. Faltava o resto, e o World Wildlife Fund (WWF) veio em socorro do Greenpeace, com uma doação de 40 mil libras.

Totalmente remodelado, em 1978, pintado de verde, com um arco-íris na proa e ostentando orgulhosamente as bandeiras do Greenpeace e das Nações Unidas – para caracterizar o internacionalismo de sua tripulação de 24 pessoas –, ele levantou âncora.

O Rainbow Warrior esteve envolvido em várias campanhas baleeiras. Uma das mais famosas foi no Peru em 1982, quando cinco ativistas se prenderam ao arpão do baleeiro Victoria 7 logo após descarregar uma baleia morta, para ser processada no porto de Paita, no Peru. Os ativistas e o capitão, acorrentado a outra parte do baleeiro, foram presos e o navio foi ocupado por guardas peruanos. Na época, o Greenpeace afirmava que voltaria a ocupar baleeiros até o Peru respeitar a moratória da caça de baleias, que no mesmo ano proibiu a caça comercial entre os países signatários da Comissão Internacional da Baleia (CIB). Como resultado direto dessas ações, o governo peruano fez um acordo para que fosse interrompida a caça desses cetáceos.

A história do Rainbow Warrior, inicialmente para ser usado em campanhas contra a caça de baleias, ganhou ares de mito em 1985, quando foi afundado pelo serviço secreto francês enquanto estava ancorado no Porto de Auckland, na Nova Zelândia. O atentado, que empregou bombas para abrir um buraco no casco do barco, aconteceu dias antes de o Rainbow Warrior zarpar, na liderança de uma pequena força naval pacifista, rumo ao atol de Muroroa, onde a França realizava testes nucleares. O ataque causou uma morte, do fotógrafo português Fernando Pereira, que estava a bordo.

Rainbow Warrior II
O navio, construído em 1957, foi comprado pelo Greenpeace em 1987 e passou dois anos em reforma para se tornar uma embarcação própria para ações. Logo após seu lançamento, em 1989, o Rainbow Warrior II iniciou um longo tour de informação por toda a Europa, seguido por viagens para Nova York e Auckland. Sua primeira e única visita ao Brasil aconteceu em 1992, durante a Eco-92, para a abertura do escritório da organização no Brasil.

20/06/1995 – Rainbow Warrior navega para o Atol de Moruroa, para protestar contra testes nucleares. © Greenpeace / Steve Morgan

A despedida

Foi com chave de ouro que a visitação do público ao Rainbow Warrior na cidade de Santos (SP) encerrou a expedição do mais novo navio do Greenpeace no Brasil. Cerca de 3.500 pessoas tiveram a oportunidade de conhecer a embarcação, atracado no maior porto da América Latina.

Durante a visita, o público teve a oportunidade de participar das campanhas do Greenpeace em proteção ao meio ambiente, como a do Desmatamento Zero. Nos mais de três meses de expedição do Rainbow Warrior pelo Brasil, cerca de 20 mil pessoas assinaram a petição presencialmente. Somando-se às assinaturas online, mais de 370 mil brasileiros pedem uma nova lei para proteger as florestas.

O navio passou por Manaus, Santarém, Macapá, Belém, São Luís, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos.

Veja abaixo uma breve retrospectiva das principais paradas:

Manaus
Em Manaus, foi lançada a campanha pela lei do Desmatamento Zero. O Rainbow Warrior ajudou a alcançar e mobilizar várias comunidades que vivem da riqueza da floresta, que se juntaram pela campanha.

Santarém
Além da divulgação da campanha do Desmatamento Zero, o Guerreiro do Arco-Íris ajudou o Greenpeace a denunciar as agressões à floresta Amazônica. Em Santarém foi feita a denúncia de uma madeireira ilegal operando em um assentamento do Incra. O navio também recebeu um debate entre organizações e lideranças comunitárias sobre a estrada BR-163 e seus efeitos no desmatamento da floresta.

Porto de Moz
O Rainbow Warrior foi o ponto de encontro de uma assembléia flutuante com representantes de comunidades extrativistas da região. A flotilha foi crucial para continuar a mobilização pela regularização fundiária da Reserva Extrativista Verde para Sempre.

Gurupá
Outra denúncia feita com a ajuda do navio foi a entrega de uma amostra de madeira coletada em uma área quilombola em Gurupá à Procuradoria Federal em Belém. O acontecimento foi o ponto de partida de um debate sobre o atual papel da exploração madeireira no desmatamento e na degradação ambiental. O evento envolveu o Ministério Público Federal, madeireiros e instituições não-governamentais.

Macapá
Já em Macapá, capital do Estado que tem 95% da sua área de florestas preservada, o governador Carlos Camilo Capiberibe fez questão de declarar seu apoio ao Desmatamento Zero. Próximo à cidade, o navio chegou à comunidade de Bailique para registrar o exemplo da Amazônia que dá certo.

Belém
Na capital paraense, a petição ganhou apoio estratégico das instituições públicas regionais. Já o público que visitou o Rainbow Warrior também fez bonito e apoiou em peso a petição. Foram mais de 1.300 assinaturas.

São Luís
Em São Luís do Maranhão, o navio estreou sua primeira ação – o bloqueio do navio Clipper Hope, prestes a fazer um carregamento de ferro gusa, matéria-prima do aço cuja cadeia produtiva envolve desmatamento ilegal, invasão de terras indígenas e trabalho escravo. Os protestos terminaram com um avanço: as autoridades e os produtores da região se dispuseram a entrar em um acordo para regularizar a cadeia produtiva do material.

Recife
Já navegando pela costa brasileira, o Rainbow Warrior estreou em Recife a campanha pelo uso de matrizes renováveis como solar, eólica e biomassa. Em evento a bordo do navio, o governo do Estado se comprometeu a fazer investimentos em energias renováveis para atrair novas empresas de TI (Tecnologias da Informação). Com o lançamento do relatório Horizonte Renovável, o Greenpeace mostrou que o Brasil possui um pré-sol e um pré-vento de oportunidades para gerar energia limpa.

Salvador
Muita gente veio conferir de perto o Rainbow Warrior na capital baiana. O Greenpeace recebeu até a visita contagiante do músico Carlinhos Brown, que animou a tripulação. Nesta parada, também foi organizado um seminário sobre potencial das energias renováveis.

Rio de Janeiro
Aportando na cidade maravilhosa para a Rio+20, o Rainbow Warrior foi palco de discussões sobre como formar um polo verde de TI na capital fluminense e de protesto de índios Xavante que há 20 anos aguardam a desocupação de suas terras por fazendeiros. Durante a conferência da ONU, o Greenpeace se juntou à sociedade civil na Cúpula dos Povos, realizando discussões sobre desmatamento, mudanças climáticas e energias renováveis. Nas ruas, participamos de uma marcha para mostrar o “verdadeiro futuro de queremos” para os líderes mundiais.

O navio Rainbow Warrior é a terceira geração do primeiro barco oficial da organização – Arquivo/Greenpeace

Fontes: agenciabrasil.ebc.com.br – greenpeace.org